segunda-feira, 16 de março de 2009

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Esse último final de semana, vivi uma emoção que para muitos, pode não ser uma novidade, e confesso que para mim também não é. Não entendi ainda o porque da emoção a flor da pele. Acredito que após narrar, alguns entenderão, já outros...


Bem, no último sábado, 14/03, fui visitar meu irmão em Suzano, grande São Paulo. Até aí, normal, afinal, irmão visita irmão. A emoção não seria tão grande se o lugar que eu o fui visitar não fosse um CDP, ou seja, Centro de Detenção Provisória. Isso mesmo. Tenho um irmão que esta preso, cumprindo pena por um crime que, segundo ele, foi forjado. Como ainda não temos provas, esse vai ser outro assunto que pretendo voltar a tona nas próximas postagens.


Confesso que não foi com a melhor satisfação do mundo que fui fazer esta visita. Em nenhum momento estava feliz por isso, pelo menos aparentemente. Ele está preso desde novembro/2008.


Desde então, tanto a minha irmã nem eu fomos visita-lo, deixando esta tortura a cargo apenas da minha cunhada. Mas chega uma hora em que a emoção fala mais alto e, apesar dos pesares, é o meu irmão que está lá, preso. Resolvi então, finalmente, depois de meses, compartilhar da romaria, da angústia e da humilhação junto com minha cunhada e ir visitá-lo. Minha irmã e meu cunhado, colaboraram sim. Nos levou até a porta do CDP.


Chegando lá, tive que alugar uma calça de moletom, já que com a bermuda jeans que eu estava, não era permitido a entrada. Levei um chinelo, por que de tenis, também não pode. A unica calça que me servia, era a mais surrada, mais suja e mais feia. Alias, esqueci meu RG dentro de um de seus bolsos, o que percebi só no domingo a tarde. Enfim, encarei. Passamos pela primeira portaria, que antecedia o mais de um quilometro seguinte até a carceragem. No meio do trajeto, meu chinelo quebrou a tira, e lá fui eu improvisar, amarrando com pedaços de linhas de pipa encontradoas pelo caminho.


A revista me obrigou a tirar o brinco que ainda usava, já que não é permitido entrar com nada além das roupas e do chinelo. Tirar a roupa, ficar pelado, abaixar, passar por identificações e vários portões depois não foi nada perto do misto de alegria e tristeza ao entrar, finalmente, na ala aonde ele se encontrava. Muitos homens presos. Muitos. Meu irmão veio nos receber na entrada da ala, que é composta, pelo menos aquela, por umas cinco celas, um pátio pequeno para tanta gente, e um espaço menor ainda onde ficam os presos que não recebem visita.


Meu coração apertou, minha garganta deu um nó no abraço e no sorriso do reencontro depois de tantos meses. Algumas lágrimas teimaram e acabaram caindo, mas as contives, porque, perante as normas internas dentre eles, não pode haver lágrimas. Não é bem visto pelos demais presos. Alguns andam do começo até o fim do pátio. Estranhei. Depois fiquei sabendo que fazem isso porque não receberam visitas e não podem sequer observar as visitas alheias, sob pena de mais tarde, ao término, serem punidos. A divisão do almoço é para com todos. Mesmo os que não recebem visitas, ganham dos que receberam.

Familias se espalhavam pelas extremidades do pátio, sentados em colchões e cobertores, que perguntei ao meu irmão se eram os mesmos em que eles dormiam. A resposta foi positiva. Senti um misto de "sarro" na resposta. Talvez o dele não estivesse ali. Alguns tocavam em uma roda de samba, com instrumentos improvisados, enquanto outros faziam bonés de croche e outras peças artesanais com linha, papel colorido e cola. Estranho foi encontrar alguns rapazes que eu conheci fora da cadeia. Não entendi como foram parar na prisão. E tão longe. Mas enfim, procurei não fazer perguntas.

Não fiquei até o final da "visita". Sai bem antes. Estava sufocado. Não conseguia ficar mais em tão pouco espaço com tanta gente. Dizem que o pior é a partir das quatro da tarde, quando então, todos entram para as celas (cerca de 20 homens em cada). Entendi o abaixo assinado que rolava por lá. Sai, passei na "lojinha", devolvi a calça alugada, e segui de volta pra casa, respirando toda a poluição que existe aqui do outro lado do muro. Porém livre...

Até mais....



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