quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A VOLTA

-Atende essa porra desse celular! Filho da puta!!! Desgraçado!!!

Era dessa forma que Marcos reagia cada vez que ligava para André e não era atendido. Também pudera. André já estava morando com outro. Com o Márcio. Jurava que ainda amava o ex. Mas estava morando com o atual porque tinha planos. Foco. Não se sabe exatamente que planos e focos são esses. Ou se sabia sim. Marcos conhecia muito bem André.

Márcio era bem mais jovem que Marcos, podia até ser mais bonito, mas faltava um algo mais. Beleza comum no mundo gay. Padronizada. Nada de muito diferente. Alto, corpo legal - Dependendo do que se entendia por um corpo legal - olhos verdes intensos.

Marcos e André viveram uma louca história de amor. Louca mesmo. Tudo aconteceu por acaso. Ops!!! Se é que existe acaso. Se viram numa rua, se apaixonaram, sem saberem qual era a do outro. Menos de um mês depois já moravam juntos. Casaram. É. Casaram sim.

Foram quase três anos de amor, brigas, separação, voltas, juras de que era amor pro resto da vida. Pra sempre.

- André, você não vai sair com teus amigos não. Não vai em boate nenhuma! E pronto.

- Vou sim. Voce não manda em mim não, tiozao. Faço o que eu quero.

Mas não foi sempre assim não. Nos primeiros meses, era amor demais. Uma casinha gostosinha, aconchegante, aonde André mandava, desmandava, mudava, enfim.

Com o tempo, depois de tantas brigas, veio a rotina. Marcos, mais caseiro, sossegadao. Também, era bem mais velho que André. Já ele, bem mais jovem, queria curtir todas as baladas do planeta. Todas as festas. Desafiar o amor de Marcos era teu forte.

Veio a primeira briga.

-Você machucou meu nariz! Ta sangrando. Me ajuda!

Ao ver o sangue que escorria do nariz do amado, enlouqueceu...

- Tá vendo...Eu não queria ter feito isso. Você provocou. Me perdoa. Por favor.

Choros. Duplos. E o perdão. Acabou na cama. Novas juras de amor. Viviam bem. Um cuidava da casa, o outro, da vida financeira do casal.

Bonitos, super discretos, eram alvos constantes da curiosidade dos outros. Desde o entregador do super mercado até os vizinhos xeretas.

Tiravam tudo isso de letra. Até riam.

-Bebe, vamos sair esse final de semana, por favor...
- Tá bom, Nene, vamos sim.

Mesmo as vezes concordando em algumas coisas, as brigas não paravam. Ciumes. Comodidade. Mais ciumes. Era amor demais.

Numa das ultimas brigas, André tomou a decisão de ir embora. Marcos nem ligou. Já vira este filme varias vezes. Estava acostumado. Logo, voltariam. Como sempre.

Já faziam alguns meses e nada. Opa!!! Demorou pra cair a ficha. André não voltava. Só então percebeu que dessa vez era pra valer.

Começou a corrida contra o tempo. Os pedidos de perdão. As ligações. Nada. Nenhum retorno. Marcos enlouqueceu com a possibilidade de ter perdido teu grande amor.

- André, me perdoa. Por favor. Não vamos mais brigar. Volta pra mim. Não me deixe. Por favor...

- Não dá mais, Marcos. Se eu voltar, vai começar novamente toda aquelas brigas, enfim...

-Você ainda me ama...Eu sei...
-Amo sim. Mas preciso de um tempo.

Quem pagava o pato, era o Wilson, amigo de André, que servia de elo e meio de comunicação entre os dois.

Marcos sabia que André era ambicioso, gostava de tudo bom e caro. Humildade, definitivamente não era teu forte. Havia algo mais nesse casamento tao rápido com Márcio. Algum interesse. Havia sim...

Semanas se passaram, e Marcos continuava tentando reconquistar o amado. A resposta era sempre a mesma.

- Te amo mas preciso de um tempo.

Marcos deu o tempo necessário que André precisava. Nos momentos de loucuras, chorava, ligava, enlouquecia. Só em pensar que outro tocava teu amado, o gosto amargo vinha na boca. Pensou ate em fazer alguma besteira. Mas resistiu. Sabia que o amor que um dia uniu os dois, não acabara. Ele iria voltar.

Sexta feira.
Triiiimmmmmmmm......

A campainha. Eram quase dez horas da noite.

-Caralho. Que será a esta hora. Justo hoje que to na maior neurose.

marcos abre a porta. E eis que ali, diante dos teus olhos, estava teu amado, teu prometido, como costumava dizer. De malas na mão. André estava de volta...

- Hehehehehe...Demorou, meu amor. Demorou...Mas seja bem vindo...A casa continua tudo igual. Traga suas coisas...Apontou para o quarto.

- Te acompanho...

Um beijo demorado...Como o primeiro. Único. Saudoso. Calor...
Camisas e calças vem ao chão...O sexo gostoso foi inevitável...Saudades...

- Te amo...
- Eu também...

De repente...

-Perai, André, vou colocar uma musiquinha pra animar nossa volta...hehehehe..na cama...no coração...na alma...

- Ta bom...

E fizeram o sexo mais intenso desde quando se conheceram...A trilha sonora não podia ser outra...

" Você não vale nada mais eu gosto de você...Você não vale nada mais eu gosto de você...Tudo que eu queria era saber porque..Tudo que eu queria era saber porque..." Calcinha Preta no som da sala e cuecas brancas no chão do quarto...


Amor...Vai entender...