quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ASSÉDIO MORAL

Hoje resolvi postar uma conversa na íntegra entre o dono da marca Efitrans (leia-se meu patrão) e eu, via email. Me digam: O que fazer nesses casos? Acatar, abaixar a cabeça e aceitar? Discutir? Exigir respeito? Sou funcionário, não sou filho...Por favor, opinem. Até mais...Abração.


Boa noite Carlinhos

Em primeiro lugar, sei o tempo que voçe trabalha no ramo de expedição, por esse motivo estranho tantos erros, um profissional como voçe tem que corrigir os erros dos outros e não pode errar.

Pode sim, mas uma vez por mês e olha lá.

Te conheço pessoalmente, admiro-o como pessoa, pela sua educação. Lendo suas palavras abaixo, bem escritas por sinal, notamos sua inteligência, fineza, educação.

E SÃO EXATAMENTE POR ESSES MOTIVOS QUE NÃO ENTENDO COMO UMA PESSOA COM TEUS PREDICADOS ERRA em casos simples como citei, NUM RAMO QUE TRABALHA A 10 ANOS ?

EU TRABALHEI 6 ANOS NUMA EXPEDIÇÃO E, QUANDO ERRAVA, me era descontado do salário, o tempo perdido, o custo do impresso ,na época jogo de conhecimento com carbono, aquele comum que hoje não existe mais, feito em gráfica,mais uma xingada de palavras não cabíveis aqui entre nós que somos pessoas esclarecidas. Na época não tinha esse negócio de danos morais, o patrão xingada e a gente abaixava a orelha, (era feito um vale na hora e descontado no pagamento)

Se voçe achar que estou mentindo pergunte pro MÁRIO, ANTONIO CARLOS, PAULO E GILSO, se eles disserem que é mentira lhe dou um carro 0km.

Por falar nisso o PAULO E A CELY NA ÉPOCA DA GUAIRA a +ou- 23 anos atrás, emitiam muito mais conhecimentos que hoje, em máquinas manuais, tinha que colocar cada jogo de conhecimento na maquina e antes intercalar os carbonos, idem com os manifestos, todas as somas de totais de mercadorias, peso, frete, tudo somado na mão, com calculadoras de papel e uma pasta com um monte de tabelas que eram consultadas a cada conhecimento emitido.................pergunte a eles como conseguiam fazer isso sem erros e depois me responda. COMPUTADOR COM AS TABELAS CADASTRADAS, FORMULARIOS CONTINUOS ?? nem pensar, nem existia lá.

Quanto a esse caso citado do ctrc 330852-9 , voçe ligou lá (fez muito bem) e esclareceu a situação, agora me responda, COMO QUE EU SEM SABER DE NADA DISSO, JÁ NOTEI QUANDO VI O CONHECIMENTO QUE O FRETE ERA CIF E NÃO FOB ? Será que tenho bola de cristal ? não, não tenho. Mas vocês poderiam ter emitido CIF ou FOB, anotar em sua agenda e ligar no dia seguinte pro cliente procurando esclarecer e nos passar a solução sem que cobrássemos de vocês.

Quanto ao numero de ctrcs emitidos em SP, reconheço o grande numero deles.
Aqui emitimos 30% a menos, só que aqui começamos a emitir TODOS, MAS TODOS MESMO após as 19:0 horas, pois coletamos tudo, NINGUÉM ENTREGA NO DEPÓSITO, portanto imagine o que fazemos para liberar todos os caminhões até as 23:00 horas com e pessoas , Fernando, Nilton e Marcelo. Não existe reversão dos conhecimentos que eles emitem.

Quanto ao remanejamento de pessoas é bom DESDE QUE FAÇAM CERTO, VOÇES ENSINEM. De nada adianta eles virem ai e vocês não conferirem o que fazem, ai, sairá muita coisa errada.
Voçe como profundo CONHECEDOR deve ensiná-los.

Quanto a união de todos, considero realmente uma família, TODOS SOMOS UNIDOS, aliás só estou respondendo esse email pelo respeito e carinho que tenho por voçe e todos ai da filial SP, todos mesmo, desde a faxineira.

O que não pode são esses erros, como citei em emails anteriores, quando entrar o E-CT (eletrônico) não poderemos mais errar, portanto é agora que temos que nos aprimorar.

Quanto mais movimento, MAIS ATENÇÃO que demore 30 segundos a mais para emitir alguns conhecimentos que requerem mais atenção, MAS SAIRÃO CERTOS.

Concorda comigo?

Debateremos pessoalmente esses e outros detalhes pessoalmente quando eu for ai, assim tenho certeza que nos faremos entender um ao outro ok ?

Um abraço.

E.T.- notei acima que voçe mandou o email para :
carlinhos.cal@ig.com.br, é da sua casa ?







Waldir O. Adami
Efitrans Eficiência no Transporte Diretor PresidenteFone / Fax: (41) 3071-4747
Cel: 9969 - 3066 / 7812-4753
Nextel 40*2709email:
adami30@efitrans.com.br Certificado ISO 9001 e ISO 14OO1
Certificada SASSMAQ

De: Carlos [mailto:carlos@efitrans.com.br] Enviada em: quarta-feira, 14 de outubro de 2009 22:24Para: Waldir Olivio AdamiCc: 'Wanessa'; mayara@efitrans.com.br; reginaldo@efitrans.com.br; paulo costa; 'Janaina Rosany'; 'Janaína Carla '; gilsocosta; 'marli'; carlinhos.cal@ig.com.brAssunto: Re: ref. 2 assuntos

ERROS INFANTIS DA EXPEDIÇÃO DE SP.
Cada vez que eu recebo um e-mail com estes dizeres , me sinto como se estivesse no jardim de infância, no qual escrevo você com "Ç" ao invés de "C", dae a professora me dá um puxão de orelha e me ensina a forma correta da grafia. E na melhor das intenções, um "coleguinha" de classe me ajuda a escrever certo, mesmo depois que a professora viu meu erro e já me castigou. De repente ele sentia prazer em me ver levar uma bronca antes de ajudar. Enfim...

Bem, falarei especificamente do ctrc em questão, o de nr SPO 330852-9. Bem, esse REMETENTE é a PRIMOFIX e não a Supera. Quando eram mercadorias da Supera, eu já sabia que tinha que ser CIF e entregue na JEA de Curitiba. Não poderia de forma nenhuma adivinhar que é pra agir da mesma forma quando o remetente fosse Primofix ( adivinhação? ). Hoje, por acaso, quando recebi este e-mail, liguei para a Supera e fui atendido por um rapaz chamado Fabio, que me disse o seguinte:

"Carlos, a Primofix é uma empresa que estamos utilizando para remeter mercadorias da Supera. Realmente o erro não foi teu e sim nosso que não avisamos. O frete realmente esta FOB na nfiscal. Amanha lhe envio fax da nota pra comprovar, se necessário for. Ah, e não adianta ligar no telefone da Primofix porque não tem ninguém para atender" . Me explicou ainda coisas mais que não vem ao caso, afinal, quem deve satisfação a Receita são eles e não eu. Portanto, nesse caso em específico, o erro não partiu da Expedição Infantil de São Paulo.

Quanto aos erros, não discuto e até peço desculpas quando eles acontecem. Mas sabe o que acontece, o ser humano cansa. Principalmente depois de horas e horas a fio digitando notas, separando, manifestando e afins, principalmente quando se trabalha com quantidade de pessoal reduzido. Trabalho em Expedição por volta de 10 anos. Acho que estou "emburrecendo", regredindo. Pelo menos é isso que percebo e parece a cada e-mail recebido.

Acredito que pela quantidade de ctrcs emitidos em São Paulo, os erros são minorias. Não tem como comparar com RIO, MCE, POA E CWB. A quantidade aqui ainda supera as demais.

Mais uma vez, lembro que não estou retrucando perante os erros, eles não deveriam acontecer, mas infelizmente, o ser humano, a expedição perfeita, está longe de existir. E olha que ja passei por algumas.

É legal recebermos este tipo de e-mail, porque nos alerta. E é errando, que tendemos a acertar. Não sei se é o nosso caso. Se não o for, então estamos ocupando o "espaço" de outros...

Ainda bem que estão sendo "remanejados" pessoal para esta área, principalmente agora no final de ano, quando triplica o trabalho.
"Xingar", não leva a nada. E nem é assim que se acerta, principalmente quando soltamos palavras no ar, dependendo do espaço, o eco é inevitável ( leia se retorno ) e acreditamos no bom senso de cada um dos envolvidos.

No mais, somos gratos a cada vez que percebem nossos erros e nos criticam, de forma construtiva, pois nos permite procurar não errar da próxima vez.

Ainda bem que somos uma "família" ( vide Aurélio) e nos auxiliamos. Principalmente quando o assunto é "RESPEITO". Todos os merecem, patrões, funcionário e afins.

No mais, tenham todos uma boa noite, ou um bom dia.

Sds,





Carlinhos / ExpediçãoEfitrans / SPOFone: (11) 2954-4487 Ramal 118Direto:(11) 2117-4418ISO 9001 / ISO 14001" A violência mata. O silêncio, mais ainda. Denuncie."
----- Original Message -----
From:
Waldir Olivio Adami
To:
'Carlinhos-SP'
Cc:
'Wanessa' ; mayara@efitrans.com.br ; reginaldo@efitrans.com.br ; paulo costa ; 'Janaina Rosany' ; 'Janaína Carla ' ; gilsocosta ; 'marli'
Sent: Wednesday, October 14, 2009 4:24 PM
Subject: ENC: ref. 2 assuntos

DOIS PROBLEMAS. ERROS INFANTIS DA EXPEDIÇÃO DE SP.

Prejuizo para a empresa se EU, WALDIR, DONO DA EMPRESA não tivesse visto.

Eu estou tendo de corrigir os erros da expedição (falta de atenção de SP).

Gente, quando que vocês vão colocar a mente pra funcionar ?

Tirem a viseira, olhem pra frente, lados e pra trás, prestem atenção.

POR FAVOR.

OK ?

greto

Waldir O. Adami
Efitrans Eficiência no Transporte Diretor PresidenteFone / Fax: (41) 3071-4747
Cel: 9969 - 3066 / 7812-4753
Nextel 40*2709email:
adami30@efitrans.com.br Certificado ISO 9001 e ISO 14OO1
Certificada SASSMAQ

De: Cesar - Efitrans [mailto:quadra@efitrans.com.br] Enviada em: quarta-feira, 14 de outubro de 2009 09:27Para: Waldir Olivio AdamiAssunto: Re: ref. 2 assuntos

***Bom dia Patrao...


1 - com relacao ao item 1, este frete e por conta da JEA, entrega na Capanema, Efitrans Spo nao colocou, mas ja estou por dentro do assunto, deixa comigo que eu passo para a cobranca os dados corretos.

2 - O primeiro manifesto esta errado, emitiram outro.


sds

Coxa
----- Original Message -----
From:
Waldir Olivio Adami
To:
'marli'
Cc:
'Cesar - Efitrans'
Sent: Wednesday, October 14, 2009 12:55 AM
Subject: ref. 2 assuntos

1-favor verificar se o frete do ctrc 330852-9 para Eletrica DW é realmente FOB, tenho minhas dúvidas acho que é CIF.

2-Voce emitiu dois ctrcs hoje números, 330746-8, e 330731-0, os dois foram manifestados no EDU, qual o milagre pra ele colocar DUAS CARGAS DE CARRETA DA GH p;/AKER em apenas uma carreta ?

César, veja o item 1 na Nota fiscal se procede FOB.

aguardo

Waldir O. Adami
Efitrans Eficiência no Transporte Diretor PresidenteFone / Fax: (41) 3071-4747
Cel: 9969 - 3066 / 7812-4753
Nextel 40*2709email:
adami30@efitrans.com.br Certificado ISO 9001 e ISO 14OO1
Certificada SASSMAQ

terça-feira, 4 de agosto de 2009

"POLÍCIA PARA QUEM PRECISA"...


Confesso que pouquíssimos filmes tem chamado minha atenção a ponto de ir aos cinemas assisti-los nos últimos anos. Porém, de verdade, nesse período todo, dois filmes me atraíram por demais. Por curiosidade, prazer, afinidade. Para alguns, são taxados de filmes trash, lixo e afins. Eu, já os achei muito bons. Bons porque de alguma maneira, despertaram ainda mais minhas vontades e desejos em relação a denuncia, marginalidade e todos os adjetivos possíveis relacionados.

O primeiro, foi Tropa de Elite. Muito bom. Adorei. Um filme real. Verdadeiro. Pouco sei sobre o BOPE, do Rio de Janeiro, mas gostei muito do que vi. Corajosos, essa segmentação da policia carioca, que adentra os morros da cidade e vai até aonde outras autoridades não conseguem ou são impedidas de irem, a não se que tenham "autorização" dos "donos" dos morros. Impressionante, porém necessária esta coação junto aos marginais. Assim funciona. Assim caminha a humanidade.

O outro, não menos corajoso, porém meio "cópia" do primeiro, é o paulistano Rota Comando. Senti aí um leve rivalidade ( novamente ) entre paulistas e cariocas. Um filme que mostra o dia a dia nas ruas, de como a temida Rota age, aborda e mata. É. Mata. Um dos lemas deles, pelo que entendi no filme, é trazer o bandido, não importa se morto ou vivo. Isso é o menos importante.
Gostei. Porém, a Rota também mostra o lado falho de uma polícia que se diz a mais ousada quando o assunto é bandidagem. Confesso que gostei, mas também me assustei, por exemplo, na cena em que é anotada uma placa de um veículo roubado e abordagem feita pela Rota. E depois, quando se descobre que a placa estava anotada errada e o abordado era inocente. Tensão. uma ração qualquer do suspeito e...morte... na certa ( é melhor eu tomar cautela com o que escrevo. Vide caco Barcelos e seu Rota 66 ).

Esse negócio de "traga" a cabeça do bandido para o quartel, me assustou, de verdade. Já fui parado por diversas vezes por esta policia, o que rendeu algumas reclamações na corregedoria do Tobias de Aguiar. Exatamente pela forma como fui abordado e de como foi conduzida a revista.
Vendo esse filme, senti por parte dos policiais um mixto de orgulho, abuso de poder, respeito e não respeito pela população. E olha que tenho motivos de sobra para pensar o pior, heim?

O importante é que, tanto o Bope quanto a Rota e demais policias existentes nesse país estão aí, para ajudar, colaborar, mas acima de tudo e principalmente, PROTEGER toda uma população que de alguma forma necessita e depende da segurança que eles podem proporcionar. O difícil é saber exatamente quando o lado do mal e do bem não invertem os papéis ou não estão trabalhando em parceria. Mas fica a dica: "Confie". E em caso de dúvidas, peças socorro, denuncie. A violência pode até matar, mas o silêncio e a falta de punição, mata muito mais.

Abraços e até mais.
Valeu.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sexta feira corrida...

Confesso que, desde que o meu irmão foi preso por tráfico de drogas ( sim...tenho um irmão preso por esse delito ), venho revendo muito os meus conceitos em trabalhar um dia na área investigativa, na denuncia de casos como este. Opa!!! Se pensam que desisti das denuncias, das cobranças das autoridades em relação a este e outros tipos de crimes só porque tenho um parente preso, enganam-se.
Cada vez tenho mais certeza do que quero e do que pretendo fazer um dia.

Amanhã é dia de visita-lo. Minha cunhada não poderá ir. A coitada está muito mal, gripada e mal consegue falar. Até brinquei com ela pra tomar cuidado com a gripe suína. Quer dizer, brinquei não, alertei, por que no fundo sabemos que a epidemia já é realidade. E engana-se quem ainda pensa que para se contaminar é preciso sair pra fora do Brasil, em viagens. A doença já está aqui.

Bem, voltando ao caso do meu irmão, amanhã irei visita-lo. Na verdade, fazem algumas longas semanas que não vou até ele. E de verdade, vai ser muito bom. A saudade aperta pra caramba. Mesmo contrariando algumas pessoas aqui fora, vou me aventurar nas filas do Centro de detenção provisória de Suzano. E vou falar a verdade para vocês: Eu, de alguma forma, me identifico com tudo isso. Isso mesmo. De alguma forma, tem algo que me "satisfaz" nessa coisa toda.

Hoje provavelmente trabalharei até umas 23.00/23.30 hs. Vou chegar em casa, tomar um banho legal e...vou pra cozinha preparar o almoço que vou levar amanhã para meu irmão. Opa...Eu não disse no post anterior que não sou bom cozinheiro? Claro que não sou...Mas se esqueceram que mencionei também que um certo senhor acha que tem coisas que nascemos com o dom? No meu caso, acho que estou aprendendo a cozinhar da forma mais cruel. Bom, vocês se lembram ainda que segundo "aquele" senhor, jornalistas ( ou futuros ) e cozinheiros ( futuros também ? ) são a mesma coisa, ?
Ah, e nem conto pra vocês que amanhã, exatamente amanhã, as 08.00 hs acontecerá uma palestra/reunião na empresa que eu trabalho. Dizem que é uma palestra sobre excelência profissional. Infelizmente não estarei presente. Digo isso porque, na boa, tinha muito o que falar. Muito mesmo. Mas...

Bem, pessoas, como ainda estou em horário de trabalho, encerrarei por aqui o meu post de hoje...até amanhã, quando postarei com certeza algo a respeito da minha visita ao meu irmão.

Grande abraço, valeu e não esqueçam de comentarem, ok???

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ser jornalista ou cozinheiro, eis a questão...




Salve, salve, meus amigos e minhas amigas. Utilizarei este espaço esta semana para refletir sobre o que presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, vomitou sobre os jornalistas. Digo vômito porque fico enjoado só de olhar para a cara daquele sujeito. Ele comentou algo assim: “Os jornalistas são como cozinheiros, temos aqueles gourmets formados em cursos de culinária e temos aquelas pessoas que possuem o dom, mas que não possuem formação técnica, os jornalistas são como eles”, disse Mendes.
Depois que a decisão foi tomada pelo STF, fui chamado tantas vezes de cozinheiro que acho que sou dono de algum restaurante. Fico me imaginando no meu trabalho diário como assessor de imprensa no momento de lançar uma matéria para os veículos de comunicação. “Escuta, estou mandando uma quentinha aí para vocês, cuidado para não se queimar com as novidades”. É isso aí, gente, vamos transformar a nossa linguagem! Na reunião de pauta de um jornal, o diretor aponta para o jornalista: “Tenho um cardápio de opções aqui interessante, preciso que produza um belo prato para gente jogar na capa de um jornal”. O jornalista responde: “Preciso consultar com as fontes para ver qual o tempero que poderia inserir na matéria para gerar mais impacto”. Outro diretor de redação solta: “Vamos cozinhar o quê hoje”? Algum cozinheiro devolve: “Nós podíamos entrevistar o pai dos maitres para apimentar um debate em torno da nossa existência, aquele que nos inventou: o Gilmar Mendes”. Daqui a pouco, meu assessorado vai me pedir assim: “Esquenta aquela matéria para mim e deixa a outra esfriando”. E olha que como sou uma lástima na cozinha, nem poderei proferir a frase: “Como cozinheiro, sou ótimo jornalista”. Agora tudo é igual! Pensemos no momento de uma cobertura, o jornalista ou o cozinheiro escuta: “Faça uma cobertura para mim lá no restaurante popular no dia do trabalhador”. O repórter de tão confuso chega ao local, entra no restaurante e providencia a sua cobertura, a de chocolate no bolo de cenoura. E a coletiva? Vamos participar de uma coletiva para entrevistar o técnico da seleção brasileira. “Atenção cozinheiro, experimente a melhor fala do Dunga para tentarmos espremer algo que dê para ingerir no nosso jornal”! A manchete do jornal, aquela que chama o leitor para se aprofundar na notícia passará a ser chamada de receita. Dependendo da receita, a gente faz e engole, outras dão a maior congestão. Por exemplo, tenho lido: “Senado está recheado de escândalos”. Epaaaa, mas não fui quem recheou isto não, não tenho nada com isso. Já li também. “Sarney engole sapos depois de várias marmeladas do Senado”. Volto a dizer, não sou especialista em carne de rã e também não gosto muito de doce. Ser cozinheiro ou ser jornalista, eis a questão, mas confesso que depois que o presidente do STF mandou essa, até eu mesmo me confundo. Depois dessa do Mendes, minha mãe fica lá em casa: “Meu filho, você precisa aprender a cozinhar”! Aí eu respondo: “Mas mãe eu cozinho todo dia sobre a imagem do deputado”. Sinceramente, é muito louco isto. Os jornais e sites que escrevo já mandaram dizer que agora não sou mais colunista. Eu sou o mais novo entregador de pizza, porque cá para nós, cozinhar não é meu forte, então o dono do restaurante me empregou para entregar pizza. Só lá no Senado, eu já entreguei umas 500. Alguém quer uma pizza de marmelada?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

AMOR DE TOLO. AMOR DE MALANDRO.


Malandro. Um bom malandro. Assim que era conhecido pela maioria das pessoas. Gilberto da Costa era seu nome. Mas só se lembrava do nome e sobrenome quando precisava de alguma forma, buscar informações no documento de identidade. Para ele e para todos, era simplesmente Giba. Malandro Giba. E foi assim que cresceu pelas vielas do bairro em que nasceu, a Freguesia do Ó, na zona norte da capital paulistana. Tinha vinte e poucos anos, era bonito, tinha o corpo definido, avantajado, músculos conquistados durante os “bicos” que fazia como servente de pedreiro pelo bairro. E era bem requisitado para esse trabalho. Principalmente pelas mulheres.

Mulheres. Esse era um dos grandes motivos de estar sempre se envolvendo em confusões.


Certa vez resolveu se envolver com a mulher do Tonicão. Acabou se saindo dessa enrascada sem um arranhão sequer. Tonicão era temido pelas ruas da Freguesia. Crescera junto com Giba. Alguns lembram ainda como se fosse hoje, os dois moleques correndo pelas ruas do bairro, logo após aprontarem mais uma das suas, como por exemplo, roubarem um bolo inteiro na padaria da esquina. Mas os anos se passaram e seguiram rumos diferentes na vida. A culpa foi da Rose também. Ela observava a distância Giba. Falava pras amigas do desejo que sentia pelo rapaz. Do corpo bronzeado, definido, malhado. Dos lábios carnudos, da mão áspera, da ginga exibicionista. E ele era.


Tinha noção da inquietação que causava nas mulheres da rua em que morava. Não se preocuparam com Tonicão. Esqueceram o medo por alguns instantes. O suficiente para a consumação do ato carnal. Não se sabe exatamente como, mas o marido dela ficou sabendo. Espancou Rose. Não muito. Amava-a. Prometeu acertar as contas com o malandro ladrão de mulheres. Encontraram por acaso e após discutirem, ouviu se um tiro. Tonicão havia atirado para o alto. Só pra assustar.


Giba, malandro que era, conseguiu escapar. Na verdade, foi só um susto. Para não aprontar mais com a mulher de amigo. Acabou sendo perdoado. As lembranças da infância falaram mais alto. A promessa de não ver ou encontrar se mais com Rose foi selada. Nunca se soube que houvera se apaixonado por alguma moça. Costumava dizer que tinha nascido livre e assim se manteria até o fim de sua vida.


Paixões, viveu várias. Mas nunca as levou a sério. Muitas choravam e brigavam por ele. Isso, de certa forma, inflava seu ego. Toda essa história mudou depois que Sandrinha foi morar naquela rua. A rua do malandro. A casa quase ao lado da sua. Sandrinha, morena bonita. Cabelos encaracolados, pele queimada de sol. Olhos amendoados. Lábios carnudos. Verdadeiro convite ao beijo. Sedento. Na rua, dificilmente um homem passava por ela sem percebê-la. Não tinha namorado até onde se sabia. Veio morar ali com os pais e mais dois irmãos. Era moça séria. Não gostava de galanteios baratos para com ela mão.


Giba ficou sabendo da chegada de Sandrinha à rua. Sorriu. Faceiro, acreditou que essa seria mais uma que morreria de amores por ele. Não a tinha visto ainda. Mas já deixara bem claro pros amigos que essa não lhe escaparia. Passou alguns dias e eis que se encontram, pela manhã, por acaso, na saída da padaria. Um esbarrão. O pedido de desculpa do malandro pra moça foi seguido de um largo sorriso. A moça aceitou as desculpas. E cortou o assunto por aí. O malandro ficou encantado com tanta beleza em uma única mulher. Procurou saber com o dono da padaria quem era tal figura tão linda.


- É a sandrinha, não conhece não? É a nova moradora da rua, Giba, disse lhe Jorge, balconista.

- É moça de respeito e não é pra você não, rapaz. Se enxergue. O pai dela é muito bravo, viu? E ela mesma também é.


Passaram se dias e Giba não conseguia tirar a imagem de tão linda flor da mente. Não entendia por que tanto interesse, mas queria saber mais sobre a moça. Encontrou a outras vezes pela rua e, cada vez que a via, o coração disparava. A respiração se tornava ofegante e um gosto estranho inundava lhe a boca,juntamente com o perfume inebriante que exalava daquela mulher.


E ela já percebia que mexia com ele. Mas não lhe dava bola, pois sabia da fama de mulherengo do malandro. Já não agüentava mais o coração apertado no peito e resolveu ir lhe falar. Encontro a na esquina da rua. Vinha da quitanda.


- Preciso lhe falar.


- Sinto muito. Não posso. Estou apressada. Tenho que fazer o almoço. Estão me esperando.

- Mas é rápido e direto o que tenho pra lhe dizer.

- Eu sei. Imagino o que seja. Não quero. Não Posso. Por favor, não insista. Vai ser melhor para nós dois. Também o reparo de forma diferenciada e percebo a forma que também me olha. Mas pare por aqui. Não posso e isso basta. E saiu. Seguiu o caminho até sua casa. Sem ao menos olhar para trás.


Giba ficou ali, parado, olhando a acompanhando com os olhos e ao mesmo tempo indignado. Não pode? Por quê? Que segredo guardaria aquela mulher? Porque a recusa? Não deveria ser casada ou ter alguém, pois nunca ouviu falar nada a respeito. Indignou se cada vez mais. E a mistura de descontentamento e indignação fazia uma bagunça danada em sua cabeça e em seu coração. Continuou insistindo.


Sempre que podia, tentava lhe falar. A resposta era sempre a mesma. Recusa. Sandrinha passou a ignorá-lo. Certa vez, viu um carro estacionado na porta da casa de Sandrinha. Dentro, estavam um homem, ela e uma criança. Uma criança pequena. O homem esbravejava muito. Apesar da distância, era possível perceber que Sandrinha chorava. E muito. Aproximou se então do de um dos lados do carro e percebeu que ela tinha o rosto vermelho. A criança choramingava.


Aproximou se mais e perguntou o que acontecia ali, se estava tudo bem. Ela pediu para que ele se afastasse. Foi então que percebeu que por um dos cantos da boca da mais linda mulher que tinha visto até então, sangrava. O homem, truculento, grosso, disse uma única palavra olhando para Giba e para Sandrinha. Um olhar fulminante. Medonho. De ódio.


- Entendi. Sandrinha saiu do carro, implorando para trazer consigo a criança, mas ele, sem dizer nada, arrancou o carro em alta velocidade. Só então Giba soube do casamento, da separação, do ódio do marido por ter perdido a esposa, do desespero da mãe em tentar recuperar o filho. Das chantagens do marido. Ameaçava que se ela não voltasse para ele, desapareceria com Rafael, o filho amado. E faria isso facilmente. Era rico. Poderoso. Influente.


Pediu a ele que se afastasse mais do que nunca dela. O marido teria ficado furioso ao vê-lo na porta do carro e poderia lhe fazer mal. Passaram se algumas semanas e Giba estava mais próximo agora de Sandrinha. Prometera arrumar um jeito, uma forma de ajudá-la. Não sabia ainda como. Mas acharia. Sandrinha e Giba agora eram vistos sempre juntos. O malandro havia conseguido. Mais uma vez. Só que agora, era diferente. Amor. Paixão. Carinho. Diferente de tudo que havia sentido até agora.


Giba estava apaixonado. De verdade. Até um emprego fixo havia conseguido. Tudo para agradar a amada. Quem não estava gostando nem um pouco de tudo isso, era o marido. Sentia traído. Rejeitado. A felicidade no olhar e no sorriso dos dois o enlouquecia. E muito.


- Isso não fica assim. Não mesmo. Naquela manhã, parecia que o sol brilhava mais forte. Como fazia a anos, Giba, antes de ir para o trabalho, passou na padaria para tomar o café antes. Entrou radiante, cumprimentou a todos com seu jeito malandro moleque de ser. Era possível notar a diferença em seu sorriso, em seu olhar. Era amor. Tomou seu café e saiu. Na porta da padaria, o encontro com o marido de Sandrinha que já o esperava. Sem dizer uma só palavra, saca de uma arma e escuta se o barulho ensurdecedor de um tiro. Um único tiro. O malandro cai.


O malandro Gilberto tomba.O gosto que sentia na boca agora era decifrável. Gosto amargo. De sangue. O cheiro, já não era mais do perfume de Sandrinha. Era de pólvora. O coração, já não tentava mais bater como antes. Percebia a visão turva. Longe, ouviu o grito e os passos largos da amada.


- Não me deixe. Por favor, não me deixe. Foi tudo que conseguiu ainda ouvir. Seus olhos cerraram. Seu corpo ficou inerte. Nunca havia se apaixonado antes porque amava a liberdade. Dizia que amor era coisa de tolo. Morreu. Por causa desse amor. Amor de tolo. Amor verdadeiro. Amor que fez parar o coração do malandro. Malandro Giba.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Internet...Orkut...Msn

Internet. Orkut. Msn. Pra que servem, na verdade, esses ítens para quem não sabe usar?
Na verdade, isso me incomoda muito. Bem mais do que deveria. Confesso que apesar e estar aí, batendo a porta de todos nós, cada dia mais visível, frequente e preciso, não sou fã da modernidade não. carrego comigo um ar de nostalgia, saudosismo. Principalmente quando toda essa tecnologia não é bem usada, ou quando é usada de maneira errada, incorreta.

Claro que tenho Orkut. Msn também. E acesso à internet. Tanto em casa, quanto no trabalho.
Porém, de verdade, não é prioridade e nem me torno escravo desse comodismo. Ok, estão aí para facilitarem as coisas, os contatos, enfim...Nada melhor que poder falar em tempo real com um parente ou amigo que mora em outro bairro, cidade, estado ou país. Maravilha!!! Não descarto essas modernidades não. Pelo contrário. Apenas condeno a forma como é utilizada e por quem as vezes é utilizada.

Nada mais irritante que abrir tua caixa de e-mails e dezenas de spans invadirem, abarrotarem tua caixa de mensagens, quando na maioria das vezes, você nem sabe mesmo quem os enviou. Aqueles de golpes ou vírus então, irritação na certa.

Tenho uma amiga que processou um colega de trabalho, depois do mesmo fazer chacota com suas fotografias retiradas do Orkut por mais de uma vez e enviar em rede para todos os funcionários da empresa e até para clientes. Ela tem certeza de que ganhará este processo, e seu advogado também. Quem foi o otário nessa história? Ela que foi motivo de piada ou ele, que vai ter que paga-la uma indenização?

Nada mais brochante que ver na página do seu namorado ou namorada um recado, um comentário, um gracejo qualquer. Quando essa "bobice" beira o explicito então, briga na certa. Tensão total. Mesmo que não haja culpa. Ou Haveria? Recados são deixados para quem os le, ou pelo menos aos que dão espaço para serem deixados. Aconteceu comigo. E lhes garanto que o resultado não foi dos melhores. Se esses recados forem então de agum ex...
Sem comentários. Insegurança? Deixa o seu/sua namorado/a então receber "trocentos" recadinhos "carinhosos" dos ex-s em suas páginas virtuais. Depois me conta qual foi o saldo de tudo isso.

Já vi muitos namoros começarem - e acabarem - por conta desses recadinhos.

Bom, não levanto bandeira da hipocrisia e nem da pré história, apenas, como já disse mais acima, entendo que a internet deve ser usada sim, mas de forma correta e por pessoas corretas, de forma que de nenhuma maneira venha a interferir em tua vida real. Viartual pode paracer legal, mas o velho papo real, cara a cara, olho no olho, a conversa franca e direta, ainda, na minha opinião, é mais prazerosa, mais sincera e verdadeira.

Abraços...
Valeu...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"Vou sair, por aí...Vou fazer, um auê..."



Bem, na verdade o stress começou no dia anterior, no sábado. Porque? Simples. Cada vez que "rola" de ir lá, o coração aperta, a adrenalina sobe, o choro fica entalado na garganta. Mas porque todo esse mix de sensações? POrque apesar dos pesares, um dos que estão ali dentro, é meu irmão. E família, de verdade, é algo bem precioso. Tesouro maior aqui nessa terra louca. Opa !!! Não estou falando que ele é um santo não. Está lá porque algo fez de errado aqui fora, e nada mais justo que ele pague tudo o que deve a essa justiça. Eu disse tudo.

Dessa vez, minha irmã, que prometeu que jamais iria visitá-lo, também resolveu ir. Demos então, "folga" pra nossa cunhada, que todo final de semana se desloca daqui da zona norte onde moramos para ir lá pra Suzano, onde ele está. Fora a humilhação de sempre. Ficar pelado, mostrar suas partes mais íntimas pra estranhos, enfim...Tem que gostar muito pra passar por isso. Gostar não. Amar. Entendo agora o porque que algumas esposas abandonam os maridos lá dentro e vice versa.

Para ir foi tranquilo. Eu, pra variar, em situações que exigem muito do meu lado emocional, estava calado, talvez stressado, ou até mesmo sem vontade de ir. Mas como futuro jornalista especializado na área investigativa ( alguém aí duvida disso??? ) encarei, na boa. Dentro do carro, meu cunhado, minha irmã, meu sobrinho (filho do meu irmão) e eu. Silêncio na maioria do tempo. E quando resolviamos conversar, o assunto era único: Prisão, advogados, sentenças e afins.

Meu cunhado é um cara muito bacana. Além de cuidar muito bem da minha irmã querida, amá-la prá valer, sempre que precisamos, ele está ali, pronto prá ajudar. Mas tem um defeito (perfeição?? quem é perfeito ??) : Quase nunca aceita palpites quando está dirigindo. Mesmo sem saber o caminho, ele não aceita "toques". Erramos umas duas vezes o caminho. E o meu sobrinho? Só de entrar no carro já enjoa...Chegando lá, o problema era tentar tirrar o piercing que minha irmã usa no umbigo. Não entra com nada de metal no corpo. Nada é nada mesmo. O pino estava emperrado. E para soltá-lo, precisamos recorrer a um depósito de material de construção e pedir um alicate emprestado. Conseguimos. Depois, fomos barrados na primeira portaria ( primeira de seis ) porque meu sobrinho não podia entrar sem estar acompanhado pela mãe ou avó. Não entendi direito: Com os avôs podem e com os tios não? Enfim...Prá nossa sorte, meu cunhado ainda estava com o carro parado esperando entrarmos. Daí voltou com meu sobrinho.

Nas filas que enfrentamos, mulheres e homens de todas as cores, raças, credos e religiões discutiam o porque cada um tinham parentes presos. Cada história. Prometo que um dia conto algumas aqui pra vocês. Na hora da revista íntima, estranhei, me incomodei, mas levei numa boa, afinal, já havia passado por isso antes. Já minha irmã...Lágrimas e mais lágrimas. Chorava copiosamente. Meu coração partia ao meio. A coitada estava em choque. Se pra nós homens é constrangedor, imagino para elas, mulheres...As mulheres nas filas até foram solidarias, mas na boa, falavam uma língua meio que desconhecida para nós. Mas...Várias filas e portões depois, chegamos até onde ele estava nos aguardando, tão aflito quanto nós.

Veio nos receber com um sorriso. Já nós, com lágrimas. Nem as gentilezas de alguns agentes nos deixou à vontade. O abraço terno, os beijos, as saudades...Que bom revê-lo. Ele pegou a sacola que carregávamos com o almoço ( funciona assim: Quando chega, eles tem que vir recepciona-lo e alivia-lo caso esteja carregando algo). Ele também choraria, se isso não o "fragilisasse" perante os demais presos. Na cadeia, diz que quem chora, dorme do canto da cama, abaixa pra pegar o sabonete, entenderam?

Sentamos em colchões e lençois improvisados espalhados peloas laterais de todo o espaço fora das celas. Nosso irmão sentou ao lado e começamos a conversar, enquanto o almoço esquentava em uma espécie de banho maria gigante improvisado por eles (aliás, eles são geniais quando o assunto é inventos). Falamos sobre tudo e todos. Família, "amigos", testemunhas, advogados, possibilidades de sair ou não, enfim, sobre tudo e todos. Uma chuva forte começou então e não parou mais, ou melhor, parava e voltava mais intensa ainda.

Fomos obrigados a nos apertarmos todos dentro das celas, visitas e visitados. Os que não tinham visitas, ficaram em um canto coberto, fora e longe das visitas, cantando pagode e fazendo batucada ( acho que daí que veio a chuva, de tão mal que cantavam). Minha relutou no início para entrar, mas vendo que não tinha jeito, relaxou, respirou fundo e...entrou. Apesar da chuva que caia, o calor era grande dentro das celas. Muitas crianças. O que me chamou mais a atenção é a organização como tudo é feito, e a cooperação entre eles. Quem não recebeu visitas, cedia os colchões e as camas para servirem de assento. Não sei se ppor medo de represálias posteriores ou se por camaradagem mesmo. Com a chuva, o papo rolou solto. Eu intercalava entre a cela e o pátio, observando os presos, a chuva, o espaço físico, as engenhocas construidas por eles.

Conversamos com alguns presos. Alguns parentes. Ficamos sabendo da história de alguns, do que esperam da justiça, o que farão quando voltarem pra rua e a amargura de estarem em um lugar que segundo eles, "não é lugar de gente não, mano"...O que me chamou muito a atenão era que, todos, sem excessão, diziam estarem ali inocentemente, que foram crimes forjados, que a policia falsificou dados, material para incriminá-los e etc, inclusive meu irmão fala isso. Pensei qté que estava em uma cadeia onde só prendem inocentes. Mas como sabemos que ninguém estava ali porque foi pego em uma igreja rezando...

Outra coisa que chamou tanto a minha atençao e o da minha irmã, foi o fato de alguns casais subirem para as camas de cima, permanecerem por lá alguns longuissimos minutos e sairem molhadas de tanto suor, tanto elas como os parceiros presos e correrem para o banheiro, afim de um banho gelado. Olhei pra minha irmã e antes que eu pudesse dizer algo ela me disse que deixasse para comentar lá fora, quando saissemos da cadeia. Calei. Ela me entendeu e eu a entendi. Compreendemos então que ali, protegidos apenas por cortinas improvisadas por lençóis velhos, brancos, encardidos e desgastados, rolava um "rala e rola". será que eles não ficavam envergonhados? Com a quantidade de mulheres grávidas que tinham por lá, acredito que não.

Depois de tanta conversa, muitas histórias ouvidas, do samba tocado ruim pra caramba, da ciançada jogando bola no pátio debaixo da chuva e principalmente, depois de tantos homens inocentes, a chuva deu uma trégua e viemos embora, deixando o coração apertado novamente, as lágrimas querendo cair novamente, mas já estou aprendendo: Não chorar. Não pode. Não deve. Segura até sair fora da visão deles. Passamos aonde aluga/guarda volumes, minha irmã se trocou e fomos embora. Acompanhados por uma senhora até que chata, falante demais. O filho dela era um dos "inocentes" que estavam lá, presos. Conseguimos despista-la e fomos pra estação de trem.

Quando entramos no trem pra vir embora, a chuva caiu mais forte e ficamos parados mais de uma hora nos trilhos, esperando para um pouco de cair tanta água do céu. Foi então que me peguei cantando: " Deixa eu, larga eu, meu amor eu não aguento mais...vou sair, por aí...vou fazer um auê..."...Epa !!! Esse era o pagode que o pessoal do Centro de detenção estavam cantando antes de começar a chuva...Uma música que fala de ... liberdade...Entendi o porque começou a chover mais forte !!!

Abraços, até mais e comentem, valeu?











terça-feira, 17 de março de 2009

Hehehehe...

- Pode colocar as mãozinhas sobre a cabeça, virar de costa e abrir bem as pernas, bando de vagabundos, safados, favelados!

Ouvir esses termos mais uma vez soou como um tapa no pé do ouvido. Mas Daniel já estava acostumado com isso. Principalmente quando saia da boca do Carlão. Policial. Da Rota hoje. Mas no passado, foi um dos moradores daquela comunidade. Ouvir que era favelado, não tinha importância. Era mesmo. Agora ouvir que era vagabundo e safado. Vixi Maria! Doía na alma.

Trabalhava até as onze, meia noite. E ao entrar na comunidade onde morava, ouvir esses esculachos de um ex-amigo...E não adiantava reclamar na corregedoria ou denunciar. Voltava cada vez mais folgado. Sem comentários. Tava uma noite fria, “garoenta”. Era tempo de chuva em São Paulo. Finalzinho de março começo de abril.

- Filho de uma puta! Quando morava aqui na favela, ficava ramelando aí no nosso meio. Agora porque ta usando uma farda, tem uma arma na cintura, fica tirando um barato da cara da rapaziada. Branquelo filho da mãe.

- Pô, Carlão, o que é isso, truta? Liga “nóis” não, é?

- Já falei pra ficar caladinho com as mãos na cabeça e virado de costa, com as pernas bem abertas, filho de uma égua! Não “ligo” vagabundo não, cara. Sou autoridade. Não tenho amizade com gente da sua laia não.

A raiva me corroia. Toda vez era a mesma coisa. Os mesmos esculachos, as mesmas humilhações, os mesmos tapas na cabeça, os mesmos chutes nas pernas, tudo isso, na maioria das vezes, vindo do mesmo policial. O Cabo Carlos. O mesmo Carlão de antigamente.

- Qualquer dia perco as estribeiras com esse lazarento e vou preso por desacato. Quem ele pensa que é? Quando ficava aqui dando um tapa no meu baseado e um bico na minha cerveja, era todo humildade. Agora... Fora a vergonha que me faz passar na frente dos manos cada vez que me pára.

Mas nessa noite, Daniel não tava muito bom não. Tinha discutido no trampo uns dois dias atrás com um outro peão.

- Aí, Daniel. Vou te catar. Fica ligeiro que vou te acertar. Aí não vai ter ninguém pra separar nóis dois não. O bicho vai pegar pro seu lado. Vou te dar só um teco. Só um.

Daniel tinha medo. Tinha sido ameaçado de morte pelo Celso. Uma briga boba que nem precisava chegar a tanto. Sabia da fama do Celso. Era cara doido. Já tinha uns artigos nas costas. Estava trabalhando de peão pra ser visto como o bom moço que nunca foi.

Começou a andar armado. Morria de medo de ser pego pelos “coxinhas”, mas não tinha jeito. Ou era ele ou o Celso. E naquela noite, ao sair do trampo, foi parado na esquina por Celso.

- É agora, moleque doido. Não te avisei?

Ouviu-se um tiro ecoar na escuridão, bem na esquina do serviço de Daniel. Por sorte, Celso tava meio grogue de um baseado e não acertou.

- Filho da mãe. Ainda bem que esse nóia ta bem louco, senão, eu tava fodido. Morto.

Daniel chegou na entrada da favela cansado. Tinha corrido muito. Nem deu tempo de usar a arma que carregava na mochila, dentro da marmita. Foi então que foi parado. De novo. Dessa vez pelo Carlão e companhia limitada. O esculacho foi inevitável. O tapa, o chute, a vergonha.

- Pode vazar, macaco favelado. Cê tá limpo. Sai fora. Nem vamos te revistar. Vai tomar uma ducha e tirar esse cheiro fedido de suor de preto do corpo. Vai lavar a marmita azeda. Peão do caralho.

As risadas doía na alma de Daniel. A raiva veio. O sangue subiu. Essa porra dessa humilhação tem que acabar. Esse pau no cú não vai mais me tirar.

- Ei, Carlão, faz favor.

- Não ta satisfeito ainda meu irmão? Qual é? A chapa vai esquentar pro seu lado agora.

Foi se aproximando de Daniel. Era possível ver a maldade em seus olhos. Daniel tremeu. Abriu a mochila. A marmita. Pegou o revolver calibre 22. Velho. Enferrujado. Mas funcionava. Era pra se proteger do Celso. Mas...

- Sabe qual foi seu erro, Carlão? Não me revistar. Achar que eu estava limpo. Se ferrou, malandro.

Três disparos foi o que se ouviu. Um na perna. Um no braço e o terceiro, certeiro. No meio da testa do Carlão. Ele cambaleou. Caiu. Morte instantânea. Nem deu tempo de socorrer. Daniel, aliviado, tranqüilo, caminhou em direção a seu barraco.

- Hehehehe...Esse nunca mais zoa ninguém...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Grades





Esse último final de semana, vivi uma emoção que para muitos, pode não ser uma novidade, e confesso que para mim também não é. Não entendi ainda o porque da emoção a flor da pele. Acredito que após narrar, alguns entenderão, já outros...


Bem, no último sábado, 14/03, fui visitar meu irmão em Suzano, grande São Paulo. Até aí, normal, afinal, irmão visita irmão. A emoção não seria tão grande se o lugar que eu o fui visitar não fosse um CDP, ou seja, Centro de Detenção Provisória. Isso mesmo. Tenho um irmão que esta preso, cumprindo pena por um crime que, segundo ele, foi forjado. Como ainda não temos provas, esse vai ser outro assunto que pretendo voltar a tona nas próximas postagens.


Confesso que não foi com a melhor satisfação do mundo que fui fazer esta visita. Em nenhum momento estava feliz por isso, pelo menos aparentemente. Ele está preso desde novembro/2008.


Desde então, tanto a minha irmã nem eu fomos visita-lo, deixando esta tortura a cargo apenas da minha cunhada. Mas chega uma hora em que a emoção fala mais alto e, apesar dos pesares, é o meu irmão que está lá, preso. Resolvi então, finalmente, depois de meses, compartilhar da romaria, da angústia e da humilhação junto com minha cunhada e ir visitá-lo. Minha irmã e meu cunhado, colaboraram sim. Nos levou até a porta do CDP.


Chegando lá, tive que alugar uma calça de moletom, já que com a bermuda jeans que eu estava, não era permitido a entrada. Levei um chinelo, por que de tenis, também não pode. A unica calça que me servia, era a mais surrada, mais suja e mais feia. Alias, esqueci meu RG dentro de um de seus bolsos, o que percebi só no domingo a tarde. Enfim, encarei. Passamos pela primeira portaria, que antecedia o mais de um quilometro seguinte até a carceragem. No meio do trajeto, meu chinelo quebrou a tira, e lá fui eu improvisar, amarrando com pedaços de linhas de pipa encontradoas pelo caminho.


A revista me obrigou a tirar o brinco que ainda usava, já que não é permitido entrar com nada além das roupas e do chinelo. Tirar a roupa, ficar pelado, abaixar, passar por identificações e vários portões depois não foi nada perto do misto de alegria e tristeza ao entrar, finalmente, na ala aonde ele se encontrava. Muitos homens presos. Muitos. Meu irmão veio nos receber na entrada da ala, que é composta, pelo menos aquela, por umas cinco celas, um pátio pequeno para tanta gente, e um espaço menor ainda onde ficam os presos que não recebem visita.


Meu coração apertou, minha garganta deu um nó no abraço e no sorriso do reencontro depois de tantos meses. Algumas lágrimas teimaram e acabaram caindo, mas as contives, porque, perante as normas internas dentre eles, não pode haver lágrimas. Não é bem visto pelos demais presos. Alguns andam do começo até o fim do pátio. Estranhei. Depois fiquei sabendo que fazem isso porque não receberam visitas e não podem sequer observar as visitas alheias, sob pena de mais tarde, ao término, serem punidos. A divisão do almoço é para com todos. Mesmo os que não recebem visitas, ganham dos que receberam.

Familias se espalhavam pelas extremidades do pátio, sentados em colchões e cobertores, que perguntei ao meu irmão se eram os mesmos em que eles dormiam. A resposta foi positiva. Senti um misto de "sarro" na resposta. Talvez o dele não estivesse ali. Alguns tocavam em uma roda de samba, com instrumentos improvisados, enquanto outros faziam bonés de croche e outras peças artesanais com linha, papel colorido e cola. Estranho foi encontrar alguns rapazes que eu conheci fora da cadeia. Não entendi como foram parar na prisão. E tão longe. Mas enfim, procurei não fazer perguntas.

Não fiquei até o final da "visita". Sai bem antes. Estava sufocado. Não conseguia ficar mais em tão pouco espaço com tanta gente. Dizem que o pior é a partir das quatro da tarde, quando então, todos entram para as celas (cerca de 20 homens em cada). Entendi o abaixo assinado que rolava por lá. Sai, passei na "lojinha", devolvi a calça alugada, e segui de volta pra casa, respirando toda a poluição que existe aqui do outro lado do muro. Porém livre...

Até mais....