quarta-feira, 6 de maio de 2009

AMOR DE TOLO. AMOR DE MALANDRO.


Malandro. Um bom malandro. Assim que era conhecido pela maioria das pessoas. Gilberto da Costa era seu nome. Mas só se lembrava do nome e sobrenome quando precisava de alguma forma, buscar informações no documento de identidade. Para ele e para todos, era simplesmente Giba. Malandro Giba. E foi assim que cresceu pelas vielas do bairro em que nasceu, a Freguesia do Ó, na zona norte da capital paulistana. Tinha vinte e poucos anos, era bonito, tinha o corpo definido, avantajado, músculos conquistados durante os “bicos” que fazia como servente de pedreiro pelo bairro. E era bem requisitado para esse trabalho. Principalmente pelas mulheres.

Mulheres. Esse era um dos grandes motivos de estar sempre se envolvendo em confusões.


Certa vez resolveu se envolver com a mulher do Tonicão. Acabou se saindo dessa enrascada sem um arranhão sequer. Tonicão era temido pelas ruas da Freguesia. Crescera junto com Giba. Alguns lembram ainda como se fosse hoje, os dois moleques correndo pelas ruas do bairro, logo após aprontarem mais uma das suas, como por exemplo, roubarem um bolo inteiro na padaria da esquina. Mas os anos se passaram e seguiram rumos diferentes na vida. A culpa foi da Rose também. Ela observava a distância Giba. Falava pras amigas do desejo que sentia pelo rapaz. Do corpo bronzeado, definido, malhado. Dos lábios carnudos, da mão áspera, da ginga exibicionista. E ele era.


Tinha noção da inquietação que causava nas mulheres da rua em que morava. Não se preocuparam com Tonicão. Esqueceram o medo por alguns instantes. O suficiente para a consumação do ato carnal. Não se sabe exatamente como, mas o marido dela ficou sabendo. Espancou Rose. Não muito. Amava-a. Prometeu acertar as contas com o malandro ladrão de mulheres. Encontraram por acaso e após discutirem, ouviu se um tiro. Tonicão havia atirado para o alto. Só pra assustar.


Giba, malandro que era, conseguiu escapar. Na verdade, foi só um susto. Para não aprontar mais com a mulher de amigo. Acabou sendo perdoado. As lembranças da infância falaram mais alto. A promessa de não ver ou encontrar se mais com Rose foi selada. Nunca se soube que houvera se apaixonado por alguma moça. Costumava dizer que tinha nascido livre e assim se manteria até o fim de sua vida.


Paixões, viveu várias. Mas nunca as levou a sério. Muitas choravam e brigavam por ele. Isso, de certa forma, inflava seu ego. Toda essa história mudou depois que Sandrinha foi morar naquela rua. A rua do malandro. A casa quase ao lado da sua. Sandrinha, morena bonita. Cabelos encaracolados, pele queimada de sol. Olhos amendoados. Lábios carnudos. Verdadeiro convite ao beijo. Sedento. Na rua, dificilmente um homem passava por ela sem percebê-la. Não tinha namorado até onde se sabia. Veio morar ali com os pais e mais dois irmãos. Era moça séria. Não gostava de galanteios baratos para com ela mão.


Giba ficou sabendo da chegada de Sandrinha à rua. Sorriu. Faceiro, acreditou que essa seria mais uma que morreria de amores por ele. Não a tinha visto ainda. Mas já deixara bem claro pros amigos que essa não lhe escaparia. Passou alguns dias e eis que se encontram, pela manhã, por acaso, na saída da padaria. Um esbarrão. O pedido de desculpa do malandro pra moça foi seguido de um largo sorriso. A moça aceitou as desculpas. E cortou o assunto por aí. O malandro ficou encantado com tanta beleza em uma única mulher. Procurou saber com o dono da padaria quem era tal figura tão linda.


- É a sandrinha, não conhece não? É a nova moradora da rua, Giba, disse lhe Jorge, balconista.

- É moça de respeito e não é pra você não, rapaz. Se enxergue. O pai dela é muito bravo, viu? E ela mesma também é.


Passaram se dias e Giba não conseguia tirar a imagem de tão linda flor da mente. Não entendia por que tanto interesse, mas queria saber mais sobre a moça. Encontrou a outras vezes pela rua e, cada vez que a via, o coração disparava. A respiração se tornava ofegante e um gosto estranho inundava lhe a boca,juntamente com o perfume inebriante que exalava daquela mulher.


E ela já percebia que mexia com ele. Mas não lhe dava bola, pois sabia da fama de mulherengo do malandro. Já não agüentava mais o coração apertado no peito e resolveu ir lhe falar. Encontro a na esquina da rua. Vinha da quitanda.


- Preciso lhe falar.


- Sinto muito. Não posso. Estou apressada. Tenho que fazer o almoço. Estão me esperando.

- Mas é rápido e direto o que tenho pra lhe dizer.

- Eu sei. Imagino o que seja. Não quero. Não Posso. Por favor, não insista. Vai ser melhor para nós dois. Também o reparo de forma diferenciada e percebo a forma que também me olha. Mas pare por aqui. Não posso e isso basta. E saiu. Seguiu o caminho até sua casa. Sem ao menos olhar para trás.


Giba ficou ali, parado, olhando a acompanhando com os olhos e ao mesmo tempo indignado. Não pode? Por quê? Que segredo guardaria aquela mulher? Porque a recusa? Não deveria ser casada ou ter alguém, pois nunca ouviu falar nada a respeito. Indignou se cada vez mais. E a mistura de descontentamento e indignação fazia uma bagunça danada em sua cabeça e em seu coração. Continuou insistindo.


Sempre que podia, tentava lhe falar. A resposta era sempre a mesma. Recusa. Sandrinha passou a ignorá-lo. Certa vez, viu um carro estacionado na porta da casa de Sandrinha. Dentro, estavam um homem, ela e uma criança. Uma criança pequena. O homem esbravejava muito. Apesar da distância, era possível perceber que Sandrinha chorava. E muito. Aproximou se então do de um dos lados do carro e percebeu que ela tinha o rosto vermelho. A criança choramingava.


Aproximou se mais e perguntou o que acontecia ali, se estava tudo bem. Ela pediu para que ele se afastasse. Foi então que percebeu que por um dos cantos da boca da mais linda mulher que tinha visto até então, sangrava. O homem, truculento, grosso, disse uma única palavra olhando para Giba e para Sandrinha. Um olhar fulminante. Medonho. De ódio.


- Entendi. Sandrinha saiu do carro, implorando para trazer consigo a criança, mas ele, sem dizer nada, arrancou o carro em alta velocidade. Só então Giba soube do casamento, da separação, do ódio do marido por ter perdido a esposa, do desespero da mãe em tentar recuperar o filho. Das chantagens do marido. Ameaçava que se ela não voltasse para ele, desapareceria com Rafael, o filho amado. E faria isso facilmente. Era rico. Poderoso. Influente.


Pediu a ele que se afastasse mais do que nunca dela. O marido teria ficado furioso ao vê-lo na porta do carro e poderia lhe fazer mal. Passaram se algumas semanas e Giba estava mais próximo agora de Sandrinha. Prometera arrumar um jeito, uma forma de ajudá-la. Não sabia ainda como. Mas acharia. Sandrinha e Giba agora eram vistos sempre juntos. O malandro havia conseguido. Mais uma vez. Só que agora, era diferente. Amor. Paixão. Carinho. Diferente de tudo que havia sentido até agora.


Giba estava apaixonado. De verdade. Até um emprego fixo havia conseguido. Tudo para agradar a amada. Quem não estava gostando nem um pouco de tudo isso, era o marido. Sentia traído. Rejeitado. A felicidade no olhar e no sorriso dos dois o enlouquecia. E muito.


- Isso não fica assim. Não mesmo. Naquela manhã, parecia que o sol brilhava mais forte. Como fazia a anos, Giba, antes de ir para o trabalho, passou na padaria para tomar o café antes. Entrou radiante, cumprimentou a todos com seu jeito malandro moleque de ser. Era possível notar a diferença em seu sorriso, em seu olhar. Era amor. Tomou seu café e saiu. Na porta da padaria, o encontro com o marido de Sandrinha que já o esperava. Sem dizer uma só palavra, saca de uma arma e escuta se o barulho ensurdecedor de um tiro. Um único tiro. O malandro cai.


O malandro Gilberto tomba.O gosto que sentia na boca agora era decifrável. Gosto amargo. De sangue. O cheiro, já não era mais do perfume de Sandrinha. Era de pólvora. O coração, já não tentava mais bater como antes. Percebia a visão turva. Longe, ouviu o grito e os passos largos da amada.


- Não me deixe. Por favor, não me deixe. Foi tudo que conseguiu ainda ouvir. Seus olhos cerraram. Seu corpo ficou inerte. Nunca havia se apaixonado antes porque amava a liberdade. Dizia que amor era coisa de tolo. Morreu. Por causa desse amor. Amor de tolo. Amor verdadeiro. Amor que fez parar o coração do malandro. Malandro Giba.

3 comentários:

  1. Eiii malandro hauahuahauhauah

    tudo bem com vc? Poxa, que bacana te encontrar por aqui... já estou te add nos meus favoritos...

    Como estão as coisas hã???

    Beijoooocas

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  2. pois é Carlinhos, saiba que lá a felicidade é garantida rsrs...

    pq não dá uma passada na faculdade qqr dia...

    tem mta gente da manhã na nossa sala, a gente ia bater um papo, relembrar rs

    bjooo

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  3. Olá gostei muito desse texto, vc vai ser um otimo jornalista parabéns....bem vindo a profissão...Abraço

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Se comentou, foi porque leu até o final. Valeu. Volte sempre...